Bovarismo: a insatisfação que nunca sai de moda

Bovarismo moderno: a eterna fuga da realidade pela fantasia
Bovarismo é mais atual do que nunca. Conceito nascido na literatura com o romance Madame Bovary (1857), do francês Gustave Flaubert, ele descreve a tendência humana de viver em conflito com a própria realidade, buscando refúgio em fantasias, idealizações e desejos impossíveis.
No século XIX, a personagem Emma Bovary se tornava símbolo de um mal-estar existencial. No século XXI, o bovarismo ressurge nas redes sociais, no consumismo desenfreado e na cultura da comparação. É a insatisfação que muda de roupa, mas não sai de cena.
O que é bovarismo?O termo foi cunhado pelo filósofo Jules de Gaultier, ao observar que muitas pessoas, como Emma Bovary, rejeitam sua identidade real e constroem versões idealizadas de si mesmas. Trata-se de uma forma de autoilusão constante, movida pela frustração com a vida cotidiana.

Emma era uma jovem entediada com seu casamento e com a vida provinciana. Apaixonada por romances românticos, esperava um amor arrebatador, aventuras luxuosas e emoções intensas. Ao não encontrar nada disso, mergulhou em dívidas, traições e angústias — até seu fim trágico.

Bovarismo moderno: a eterna fuga da realidade pela fantasia

O bovarismo nas redes sociaisHoje, o Instagram é o novo romance de Emma. Perfis polidos, rotinas editadas, sorrisos milimetricamente construídos. O bovarismo digital se alimenta da necessidade de parecer feliz, interessante e desejado.

Muitos vivem versões filtradas de si mesmos, projetando uma vida que não corresponde à realidade. É a nova forma de escapismo: trocar a frustração por curtidas, mesmo que o vazio continue ali.

O bovarismo e o consumoEmma Bovary também antecipou a lógica do consumismo contemporâneo. Ela comprava roupas, objetos e móveis para preencher seu vazio interior. Hoje, a sociedade de consumo opera com o mesmo princípio: vender promessas de felicidade, status e pertencimento.

A publicidade explora desejos, oferecendo soluções mágicas para a falta de sentido. O resultado? Compras por impulso, endividamento e uma sensação constante de que “ainda falta alguma coisa”.

Uma leitura feminista de Emma BovaryDurante muito tempo, Emma foi julgada como adúltera e fútil. No entanto, leituras feministas recentes revelam outra camada: a de uma mulher sufocada pelos papéis impostos, em busca de autonomia emocional e intelectual.

Emma não queria apenas amar, mas também viver — intensamente, livremente. Em uma sociedade patriarcal, esse desejo era considerado escandaloso. Seu drama revela o preço que mulheres pagam ao tentar escapar do destino que lhes foi traçado.

Por que o bovarismo continua atual?Porque a insatisfação é um traço humano. Todos, em alguma medida, sonhamos com algo além. Mas o problema do bovarismo não é sonhar — é recusar a realidade por completo e viver em função de um ideal inalcançável.

Hoje, como ontem, o bovarismo é um convite à reflexão: o que está por trás da nossa constante sensação de “não ser suficiente”?

O bovarismo é a história de Emma, mas também pode ser a nossa. Ele nos alerta sobre os perigos de fugir da realidade em busca de uma perfeição que não existe. A felicidade talvez esteja menos nas fantasias que nos vendem e mais na aceitação do que realmente somos.Emma Bovary ainda vive — só que agora, conectada ao Wi-Fi.

Você também já se pegou comparando sua vida com a dos outros nas redes sociais? Compartilhe esse artigo com alguém que precisa refletir sobre isso. 

Publicidade

Portal Jaciara Barros - Anuncie Aqui