conecte-se conosco

Social

Artistas do Norte do Brasil participam do 38º Panorama da Arte Brasileira do MAM São Paulo

Publicadas

sobre

Dona Romana (Natividade, TO, Brasil, 1941) Centro Bom Jesus de Nazaré, sítio Jacuba, Natividade, TO, desde setembro de 1989 Registro Fotográfico de Emerson Silva

Artistas do Tocantins, Amazonas, Roraima, Pará e Acre estarão na próxima edição da bienal do MAM São Paulo que será inaugurada em 5 de outubro.

O Museu de Arte Moderna de São Paulo inaugura, em 5 de outubro, o 38º Panorama da Arte Brasileira: Mil Graus, projeto bienal e fundamental na história do museu, com tema que reflete as urgências do tempo presente. A proposta curatorial do 38º Panorama da Arte Brasileira é elaborar criticamente a realidade atual do Brasil sob a noção de calor-limite — conceito que alude à uma temperatura em que tudo derrete, desmancha e se transforma. O projeto busca traçar um horizonte multidimensional da produção artística contemporânea brasileira, estabelecendo pontos de contato e contraste entre diversas pesquisas e práticas que, em comum, compartilham uma alta intensidade energética.

A curadoria de Germano Dushá e Thiago de Paula Sousa, e curadoria-adjunta de Ariana Nuala, traz 34 artistas de diversas gerações, com pessoas nascidas na década de 1940 até chegar em outros nascidos no fim dos anos 1990 e no início dos 2000. Dentre os 16 estados contemplados na mostra, a região norte está representada em 5 estados, com os artistas Dona Romana (TO), Joseca Yanomami (RR), Labo (PA) e Rafaela Kennedy (AM) e Ivan Campos (AC).

A diversidade de mídias e linguagens derivadas desse corpo artístico é reflexo final da pluralidade que orientou a formulação do projeto: há artistas que trabalham com matérias orgânicas e mídias tradicionais, alguns com práticas espontâneas ligadas a conhecimentos tradicionais e outros mais vinculados a formações acadêmicas; se somam a esse conjunto artistas que trabalham experimentações com novas mídias, tecnologias que são pouco convencionais ao circuito artístico, recursos e imagens digitais, equipamentos industriais e materiais artificiais. Dentre os motivos que baseiam os trabalhos do grupo de artistas, estão questões como a espiritualidade, a noção de ecologia expandida, os paradoxos da tecnologia, o erotismo dos fluxos de energia e corpos pelas cidades.

Saiba mais sobre os artistas abaixo:

Dona Romana (TO) 

Dona Romana Pereira da Silva é mística e líder espiritual. Mora a 3km da zona urbana da cidade, local denominado Centro Bom Jesus de Nazaré, no sítio Jacuba. Semianalfabeta, aprendeu em casa, o básico para ler e escrever. Ela diz ouvir as vozes de três curadores que a orientam no que dizer ou fazer há mais de 35 anos. Romana vive em um sítio, onde ela construiu e estão espalhadas esculturas de pedra tapiocanga e cimento em forma de humanos e animais, pássaros, figuras estrelares e geométricas, com várias antenas entrelaçadas por fios. Também estão armazenados cadernos manuscritos, desenhos em cartolinas, livros, objetos, roupas, comida, grãos e muita água, que a mística diz que um dia serão utilizados por pessoas que chegarão necessitadas à região. Em 2007, Romana foi homenageada pelo poder público municipal com o diploma e a medalha de honra ao mérito “Pio Pinto de Cerqueira”. Com várias atividades diárias, Romana desenvolve além do seu lado espiritual/místico, se revela uma grande artista com suas obras.

Para o 38º Panorama da Arte Brasileira foram comissionados registros documentais inéditos de seu centro espiritual e de suas obras. Haverá um painel fotográfico de grandes dimensões que apresenta seu santuário em Natividade (TO), reforçando sua presença por um repositório online com fotografias, áudios de entrevistas e transcrições que sintetizam sua jornada.


Labo (AM) e Rafaela Kennedy (AM)

Labô Young é um artista paraense nascido em Icoaraci, distrito da cidade de Belém, que desenvolve, dentro das artes visuais/moda nacional e internacional, um trabalho que ecoa suas raízes da Amazônia brasileira. Uma pesquisa íntima que envolve suas experiências do viver e cotidiano em Icoaraci. Suas criações são movidas pelas histórias de encantaria amazônica, o rio e os materiais orgânicos que o inspiram desde a infância, materiais esses usados para a produção das peças que constrói até hoje, compreendendo assim a importância dos repasses de saberes e técnicas ancestrais na sua cultura e família.

Rafaela Kennedy é uma artista visual amazônica conhecida por sua abordagem na fotografia. Seu processo poético floresce na observação atenta de seus pares e nas ancestralidades travestis que a precederam. Sua fotografia convida à imersão, onde corpo, vestimenta e entorno se entrelaçam, cultivando uma vida não normativa e abundante. À frente do Ateliê TRANSmoras, ela promove a autonomia de artistas e lideranças trans do Brasil. A associação foi fundada na Unicamp e hoje também possui um ponto físico no Centro Cultural São Paulo. Em 2022, Rafaela foi premiada no “Women’s in Residency Award” na feira de arte Zona Maco e participou de uma residência artística na Casa Wabi em Puerto Escondido, estado de Oaxaca, México. Em 2023, ela entrou para a lista global da revista britânica Dazed, como uma das 100 vozes criativas que impulsionam a cultura jovem da próxima geração.

No 38º Panorama, Labō e Rafaela Kennedy apresentam uma série de fotografias que aludem aos fenômenos naturais e cenários urbanos do Norte do Brasil. As imagens apresentam figuras extraordinárias com armaduras produzidas com elementos naturais que reconfiguram as silhuetas do corpo, criando narrativas visuais que acentuam a capacidade de transmutação da vida no planeta e sua relação intrínseca com seres de outras dimensões para repensar o presente e projetar possíveis futuros.

Joseca Yanomami (RR)

Joseca nasceu na década de 1970, na região do Demini, Terra Indígena Yanomami, e começou a desenhar e a esculpir animais notáveis em madeira no início dos anos 2000. Antes disso, ele havia sido o primeiro estudioso de línguas e professor da comunidade Watorikɨ, no início dos anos 1990 e também o primeiro Yanomami a trabalhar na área de saúde. Desde 2003, as obras do artista são exibidas em importantes instituições de arte e ajudam a fortalecer a luta Yanomami e a divulgar os saberes dos indígenas para o Brasil e o mundo.

O artista apresenta dez obras inéditas no 38º Panorama, seus desenhos retratam animais e plantas em suas capacidades espirituais e funções materiais, as atividades xamânicas e os portais entre os planos. Uma dessas obras, realizada especialmente para o Panorama, conta o mito da origem do fogo, revelando como uma descoberta e uma grande articulação coletiva, envolvendo chiste e piruetas entre diversos seres, tornou possível capturar esse elemento transformador para as condições vitais.


Ivan Campos (AC)

Quando rabiscava seus desenhos em pano, lençóis ou guardanapos, cujas gravuras seriam cobertas com pintura por sua mãe, dona Gercina Braga Campos, já falecida, uma costureira e bordadeira de mão cheia, o hoje artista Ivan campos Moreira, de 62 anos, nem imaginava que ali começava sua principal profissão e atividade de um artista diferenciado e cujos quadros, na atualidade, ornam museus e coleções ao redor do mundo. Pinta a natureza e a exuberância da floresta amazônica com riqueza de detalhes. Seus quadros são tão detalhistas que algumas gravuras, de bichos e insetos, só são possíveis de serem admiradas com o uso de lupas.

No 38º Panorama, o artista apresenta uma tela de grandes dimensões, que traz os principais aspectos de sua obra. A pintura de sete metros horizontais, foi produzida entre 2008 e 2010 e marcou sua trajetória como o projeto mais desafiador e demorou um ano para ser concluída. Segundo os curadores, “enxergamos uma selva intrincada, cheia de complexidades, onde tudo está em movimento. Com poucas cores, de modo a manter uma coesão energética, o artista não deixa de sublinhar a mistura, a mística, as profundas camadas e a confusão de escalas e perspectivas que compõem um ecossistema. Por meio de tons esverdeados e azulados, e um traço sensível e dinâmico, o artista constrói um panorama que dá corpo à energia pulsante que forma e desforma tudo que nos cerca.”

Sobre o Panorama da Arte Brasileira do MAM São Paulo
A série de mostras Panorama da Arte Brasileira foi iniciada em 1969 e coincidiu com a instalação do MAM São Paulo em sua sede na marquise do Parque do Ibirapuera. As primeiras edições do Panorama marcaram a história do museu por terem contribuído direta e efetivamente na formação de seu acervo de arte contemporânea. Ao longo das 37 mostras já realizadas, o Panorama do MAM buscou estabelecer diálogos produtivos com diferentes noções sobre a produção artística brasileira, nossa história, cultura e sociedade. Realizado a cada dois anos, sempre produz novas reflexões acerca dos debates mais urgentes da contemporaneidade brasileira.

Sobre o MAM São Paulo
Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna de São Paulo é uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos. Sua coleção conta com mais de 5 mil obras produzidas pelos mais representativos nomes da arte moderna e contemporânea, principalmente brasileira. Tanto o acervo quanto as exposições privilegiam o experimentalismo, abrindo-se para a pluralidade da produção artística mundial e a diversidade de interesses das sociedades contemporâneas.

O Museu mantém uma ampla grade de atividades que inclui cursos, seminários, palestras, performances, espetáculos musicais, sessões de vídeo e práticas artísticas. O conteúdo das exposições e das atividades é acessível a todos os públicos por meio de visitas mediadas em libras, audiodescrição das obras e videoguias em Libras. O acervo de livros, periódicos, documentos e material audiovisual é formado por 65 mil títulos. O intercâmbio com bibliotecas de museus de vários países mantém o acervo vivo.

Localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante área verde de São Paulo, o edifício do MAM foi adaptado por Lina Bo Bardi e conta, além das salas de exposição, com ateliê, biblioteca, auditório, restaurante e uma loja onde os visitantes encontram produtos de design, livros de arte e uma linha de objetos com a marca MAM. Os espaços do Museu se integram visualmente ao Jardim de Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx e Haruyoshi Ono para abrigar obras da coleção. Todas as dependências são acessíveis a visitantes com necessidades especiais.

Serviço: 

38º Panorama da Arte Brasileira: Mil graus
Curadoria: Germano Dushá, Thiago de Paula Souza
Curadoria-adjunta: Ariana Nuala
Período expositivo: 5 de outubro de 2024 a 26 de janeiro de 2025
Realização: Museu de Arte Moderna de São Paulo
Exibição em: Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, MAC USP
Locais: térreo e terceiro andar
Funcionamento: terça a domingo, das 10h às 21h
Gratuito
Mais informações em: mam.org.br/38panorama

Propaganda