Bebê Reborn: a materialização do vazio existencial

primeira boneca da irmã Nayara, que tem quase 40 anos. Hoje, minha mãe cuida dela como se fosse um bebê, compra roupa, coloca deitada na cama e se chama Bilubilu

A cultura atual é de silenciar o afeto enquanto o excesso grita aos quatro ventos. Estamos saturados de estímulos, conexões artificiais e distrações, mas expressamos um vazio abissal. A exemplo temos o fenômeno dos bebês reborn: bonecas bem realistas tratadas como filhos por adultos que, em muitos casos, não estão brincando, estão buscando sentido para a própria existência .

“Reborn” significa “renascido”. E é isso que muitos tentam desesperadamente: renascer para uma vida que faça mais sentido, menos sofrida, que preencha os vazios deixados pela ausência de amor e de paz. No entanto, quando o renascimento é simulado em bonecas, algo mais profundo está sendo revelado: o adoecimento emocional em massa das famílias.

primeira boneca da irmã Nayara, que tem quase 40 anos. Hoje, minha mãe cuida dela como se fosse um bebê, compra roupa, coloca deitada na cama e se chama Bilubilu

Homens e mulheres encontram nos bebês reborn não apenas um passatempo, e sim, uma válvula de escape para realidades pesadas, caóticas e solitárias. Eles se intitulam “pais” de boneca, como se o material sintético tivesse mais valor do que os filhos de carne e osso. Tudo isso para fugir da angústia de relacionamentos reais que machucaram, da frustração dos sonhos que não se realizaram e de uma sociedade que valoriza o ter, sem se preocupar em ensinar o ser.

Todo mundo quer ser amado, valorizado, aceito. E quando esse desejo não se concretiza em relações humanas saudáveis ou/e na espiritualidade, buscamos substitutos numa espécie de maquiagem para camuflar a face da dor.

Enquanto nossa essência quer conexão, identidade e propósito, a aparência oferece simulacros: bonecas no lugar de filhos, likes para disfarçar a falta de amigos e aplicativos de relacionamento como fuga para solidão. Fantasias que vestimos para mascarar nossa completa incapacidade de nos entregar de corpo e alma à realidade.

É preciso coragem para encarar o vazio e reencontrar a identidade. Se necessário seja uma “pessoa” reborn, que no sentido mais poderoso da palavra é ser transformada por dentro, nascer de novo e não se perder com as ilusões, porque só o amor que é verdadeiro, que não se compra, nem se fabrica é capaz de preencher o vazio até transbordar.

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