A cultura atual é de silenciar o afeto enquanto o excesso grita aos quatro ventos. Estamos saturados de estímulos, conexões artificiais e distrações, mas expressamos um vazio abissal. A exemplo temos o fenômeno dos bebês reborn: bonecas bem realistas tratadas como filhos por adultos que, em muitos casos, não estão brincando, estão buscando sentido para a própria existência .
“Reborn” significa “renascido”. E é isso que muitos tentam desesperadamente: renascer para uma vida que faça mais sentido, menos sofrida, que preencha os vazios deixados pela ausência de amor e de paz. No entanto, quando o renascimento é simulado em bonecas, algo mais profundo está sendo revelado: o adoecimento emocional em massa das famílias.

Homens e mulheres encontram nos bebês reborn não apenas um passatempo, e sim, uma válvula de escape para realidades pesadas, caóticas e solitárias. Eles se intitulam “pais” de boneca, como se o material sintético tivesse mais valor do que os filhos de carne e osso. Tudo isso para fugir da angústia de relacionamentos reais que machucaram, da frustração dos sonhos que não se realizaram e de uma sociedade que valoriza o ter, sem se preocupar em ensinar o ser.
Todo mundo quer ser amado, valorizado, aceito. E quando esse desejo não se concretiza em relações humanas saudáveis ou/e na espiritualidade, buscamos substitutos numa espécie de maquiagem para camuflar a face da dor.
Enquanto nossa essência quer conexão, identidade e propósito, a aparência oferece simulacros: bonecas no lugar de filhos, likes para disfarçar a falta de amigos e aplicativos de relacionamento como fuga para solidão. Fantasias que vestimos para mascarar nossa completa incapacidade de nos entregar de corpo e alma à realidade.
É preciso coragem para encarar o vazio e reencontrar a identidade. Se necessário seja uma “pessoa” reborn, que no sentido mais poderoso da palavra é ser transformada por dentro, nascer de novo e não se perder com as ilusões, porque só o amor que é verdadeiro, que não se compra, nem se fabrica é capaz de preencher o vazio até transbordar.

