Dezembro Vermelho alerta para ISTs silenciosas e prevenção combinada
Campanha Dezembro Vermelho reforça a importância da prevenção combinada, da testagem regular e da informação qualificada em um cenário de avanço silencioso das Infecções Sexualmente Transmissíveis no país.
O Dezembro Vermelho, campanha nacional dedicada à conscientização sobre o HIV e as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), ganha ainda mais relevância diante do avanço silencioso dessas doenças no Brasil. A iniciativa reforça a importância da prevenção combinada, do diagnóstico precoce e da rotina de cuidados, especialmente em regiões que registram índices elevados, como o Tocantins.
Embora o HIV ainda seja o foco de grande parte das ações de saúde pública, especialistas alertam que ele integra um conjunto de infecções que se manifestam de forma silenciosa. Sífilis, clamídia, gonorreia, HPV e hepatites virais estão entre as doenças que mais crescem no país, muitas vezes sem sintomas iniciais, levando a diagnósticos tardios e complicações graves.
A ausência de sinais imediatos é um dos principais motivos que levam pessoas a descobrirem o diagnóstico apenas em fases avançadas da infecção. Outro fator determinante é o estigma associado às ISTs, que ainda impede parte da população de buscar testagem de rotina. De acordo com o infectologista do Sabin Diagnóstico e Saúde, Rafael Nogueira, essa percepção equivocada faz com que muitos não se percebam em risco.
“É muito comum que pessoas casadas há muitos anos pensem que as IST fazem parte de uma realidade distante. No entanto, quando realizamos um exame, o diagnóstico é positivo”, afirma o médico. “Existe a ideia de que só corre risco quem tem múltiplos parceiros, e isso não corresponde à realidade. Qualquer relação sexual desprotegida pode resultar em uma IST.”
Segundo Nogueira, o diagnóstico precoce é determinante para o sucesso do tratamento. “No caso do HIV, embora não exista cura, os tratamentos atuais são altamente eficazes. Quanto antes o diagnóstico é feito, melhor é a resposta, permitindo uma vida absolutamente normal com acompanhamento adequado”, explica.
Prevenção combinada como estratégia essencial
A campanha destaca a importância da prevenção combinada, abordagem utilizada por organismos internacionais que integra diferentes estratégias de proteção. Entre elas estão o uso de preservativos, a vacinação, a testagem periódica e, em casos recomendados, o uso da PrEP (profilaxia pré-exposição) e da PEP (profilaxia pós-exposição).
“O uso dessas ferramentas de forma complementar é o que garante resultados mais sólidos na redução da transmissão. A prevenção combinada amplia a autonomia das pessoas e fortalece a cultura do autocuidado”, explica o infectologista.
ISTs silenciosas que exigem atenção
Além do HIV, outras ISTs preocupam pela capacidade de evoluir sem sintomas aparentes. Sífilis, clamídia, gonorreia, HPV e hepatites B e C podem permanecer invisíveis por longos períodos, ocasionando sequelas importantes quando não tratadas, como infertilidade, lesões crônicas e até câncer.
“O exame não deve ser encarado com medo, mas como um ato de responsabilidade. Quanto mais cedo se sabe, mais cedo se trata, mais cedo se interrompe a cadeia de transmissão”, reforça Nogueira.
Panorama das ISTs no Brasil e no Tocantins
Segundo dados recentes do Ministério da Saúde, o Brasil ainda enfrenta índices preocupantes:
HIV: 39.216 casos registrados em 2024. A Região Norte possui a maior taxa de detecção (25,3). Palmas aparece com 40,2 casos por 100 mil habitantes.
Sífilis: 256.830 registros em 2024. Palmas é uma das capitais com maior taxa de sífilis adquirida no Brasil, com 317 casos por 100 mil habitantes.
Transmissão vertical da sífilis: o Tocantins registrou 48,5%, o segundo maior índice do país.
HPV: mais de 50% dos jovens sexualmente ativos já tiveram contato com o vírus. O INCA estima 17 mil novos casos anuais de câncer do colo do útero, sendo 180 no Tocantins.
Hepatites virais: mais de 644 mil notificações acumuladas entre 2000 e 2024. Apesar da redução da mortalidade por hepatite B, a Região Norte mantém índices elevados.
Um chamado à responsabilidade coletiva
Para especialistas, o Dezembro Vermelho não é apenas uma campanha de fim de ano, mas uma convocação permanente ao autocuidado, à responsabilidade compartilhada e à quebra de estigmas. A ampliação da testagem, o uso de preservativos e o acesso às profilaxias são estratégias fundamentais para conter o avanço das ISTs.
A mensagem central permanece clara: a prevenção é uma escolha cotidiana, e a informação é a ferramenta mais poderosa para salvar vidas.
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