Ruy Barbosa, Bahia – No rosto do apicultor Otávio de Jesus Alves, de 39 anos, um sorriso largo esconde as adversidades que ele e sua esposa Nice, de 38 anos, enfrentaram para alimentar seus três filhos. Nascido na pacata cidade de Ruy Barbosa, localizada na região da Chapada Diamantina, a cerca de 300 quilômetros de Salvador, Otávio vivia de pequenos trabalhos e da coleta de reciclados até que a apicultura e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) cruzaram seu caminho.

A vida não era fácil quando a única fonte de renda do casal era a “catação” de reciclados. Porém, movido pela necessidade e orientado por amigos, Otávio decidiu enfrentar o desconhecido e se aventurar na criação de abelhas, mesmo sem ter técnica nem conhecimento prévio sobre o assunto.

“Foi quando meu filho encontrou uma mesinha usada e ficou todo feliz, querendo colocá-la em seu quarto. Eu disse: ‘Não, meu filho, vou usá-la para começar a criação de abelhas’. Cortei, montei e capturei um enxame para iniciar minha produção”, relata Otávio com entusiasmo.

Embora a família tenha expandido o número de colmeias, a atividade não decolava, apesar de todo o esforço dedicado. “Não consigo expressar em palavras o que o Senar fez em nossas vidas. No início, ficávamos estagnados com apenas 14 colmeias; quando chegávamos a 15, um enxame ia embora ou as abelhas morriam. Sofri muitas picadas no começo. Acredito que é preciso passar por adversidades para aprender, não é? Mas depois de participar do curso oferecido pelo Senar, consegui manter uma média de 35 colmeias e não parei mais. A produção só cresceu”, conta Otávio.

O aumento na produção de mel trouxe um novo significado para toda a família, inclusive para o genro, que antes tinha medo de ser picado pelas abelhas. “Quando realizamos a primeira colheita, soltamos fogos de artifício. Foi uma experiência incrível”, relembra Otávio com emoção.

Entretanto, o caminho para o sucesso não foi fácil. Nice revela que, em várias ocasiões, eles chegaram a considerar desistir. “Já passamos por momentos de necessidade, mas tudo mudou e agora estamos muito melhores”, diz ela com alívio.

Buscando aprimorar ainda mais seus conhecimentos e melhorar a gestão da propriedade, o casal decidiu procurar novamente o Senar em 2021 e começou a receber Assistência Técnica e Gerencial. Essa iniciativa visava complementar seus conhecimentos em apicultura e proporcionar uma abordagem inovadora e gratuita para o gerenciamento de sua propriedade. A técnica de campo do Senar, Laurícia Nascimento, relata com entusiasmo como foi a troca de conhecimentos com Otávio. “Ele realiza todas as suas tarefas com amor. Cada ação é cuidadosamente pensada, e os resultados nos motivam. Ele me incentivou a estudar ainda mais para poder ensiná-lo”, afirma.

Laurícia se emociona ao falar sobre seu trabalho na propriedade. “Quando chego aqui, não me sinto uma estranha realizando apenas um trabalho, mas sim parte integrante da estrutura. Sou mais um membro que seu Otávio acolheu, um membro da família dele. É extremamente gratificante estar em um ambiente como esse”, acrescenta.

Com os conhecimentos adquiridos por meio do Senar, Otávio aprendeu a fazer divisões de colmeias e a colher pólen e própolis. Agora, realiza colheitas duas vezes ao ano, durante duas floradas distintas, como explica a técnica de campo. “Em uma região predominam espécies como pau de fuso, calumbi, aroeira, malva canela de juriti e rama de cabra. Isso resulta em um mel proveniente de diversas flores, conhecido como mel silvestre. Na outra região, temos a florada do cipó uva, que produz um mel mais claro, saboroso e valorizado no mercado”, esclarece a técnica do Senar.

Em apenas um ano, a produção de mel mais do que dobrou, passando de 400 quilos para um pouco mais de uma tonelada, graças à assistência técnica recebida ao longo de dois anos. Atualmente, Otávio possui 120 colmeias e quatro apiários.

“Hoje em dia, sinto que o céu é o limite. Após receber a assistência técnica do Senar, meu objetivo é vender mel em supermercados, além de própolis e pólen”, afirma Otávio com determinação.

Além de realizar seu sonho de ter um pedaço de terra, a família conseguiu adquirir um sítio chamado “Nosso Sonho”. Lá, construíram inicialmente uma casa de taipa, mas, com a melhora das condições, puderam enfim construir uma casa de alvenaria.

“Eu sonhava com esse pedaço de terra há 10 anos, e finalmente chegou o dia em que pudemos comprá-lo. Esse sonho não é só meu, mas de toda a minha família: mãe, pai, filhos. É o nosso pedaço de terra”, afirma Otávio com gratidão.

O apiário do sítio “Nosso Sonho” se tornou um verdadeiro berçário, onde enxames chegam e onde Otávio guarda as caixas-iscas. Com a capacidade máxima atingida nesse apiário, o produtor agora retira abelhas para abastecer os outros apiários.

Além de uma nova casa, a produção de mel trouxe outras conquistas para a família e para os filhos Alessandro (20), Graziela (18) e Clarice (13). Eles conseguiram comprar uma moto, que facilita o transporte do mel entre o sítio e a cidade para a entrega dos produtos. “Comprei a moto na terceira vez em que vendi mel”, revela Otávio com satisfação.

As filhas do casal ainda estão estudando. Clarice está cursando a 8ª série do Ensino Fundamental, enquanto Graziela está no 3º ano do Ensino Médio. Apesar da timidez, ambas expressam a alegria de terem suas necessidades supridas em casa. Elas relembram os tempos em que moravam na pequena casa de taipa, que não comportava toda a família.

“Antes, não tínhamos condições de comprar muitas coisas, sempre faltava algo. Mas então meu pai entrou na apicultura, e nossa vida melhorou muito”, afirma Clarice. “Agora temos uma casa incrível, maior, e não nos falta nada. Nossa vida melhorou muito”, acrescenta Graziela.

Para Otávio, ter seu próprio quarto na nova casa significou muito, especialmente agora que é casada e conta com a ajuda de seu marido Francisnei na produção de mel. “Antes, eu não tinha meu próprio quarto. Agora, temos televisão, celular, internet e saúde”, diz ela com entusiasmo.

O filho mais velho, Alessandro, de 20 anos, começou ajudando os pais na reciclagem e no cuidado com as abelhas, mas seguiu seu próprio caminho, trabalhando com cavalos após sair de casa.

“Parte do meu sonho já foi realizado, mas ainda tenho outros sonhos pela frente, e tenho certeza de que vou realizá-los”, afirma o produtor de mel com determinação.

À medida que as coisas melhoraram em casa, a relação entre os membros da família também mudou. “Antes, discutíamos por falta de dinheiro para comprar comida, e às vezes perdíamos a cabeça. Mas agora isso não acontece mais”, revela Otávio emocionado. “Minha história é de superação, de onde eu vim e das dificuldades que enfrentei. Hoje, poder estar aqui é algo incrível. O Senar não é apenas um nome, eles nos acompanham”, agradece ele.

Para Otávio e Nice, a satisfação de saber que seu mel chega às mesas de milhares de pessoas é algo indescritível. “A sensação de saber que meu mel está presente em tantas mesas é inexplicável”, afirma Otávio com orgulho. Nice complementa, destacando o quanto se sentem importantes. “Nunca imaginei que minha vida pudesse mudar tanto com a criação de abelhas e a produção de mel. É emocionante. Agora temos condições de oferecer uma vida melhor para nossa família.”

A paixão pelas abelhas tem contagiado até mesmo os amigos de Otávio. “Tenho amigos que possuem um pedaço de terra e têm vontade de criar abelhas. Eu os indico o Senar, pois sozinhos não somos capazes de fazer muita coisa. Indico para que eles também possam se qualificar, assim como eu fiz, e alcançar o sucesso”, incentiva Otávio.

As ferroadas do início da jornada na apicultura são apenas parte de uma história de esforço, aprendizado, persistência e superação. Otávio, Nice e seus três filhos ainda têm um longo caminho pela frente, mas uma parte dessas conquistas já pode ser vista em seu sítio, carinhosamente chamado de “Nosso Sonho”, em Ruy Barbosa.

A história de Otávio é apenas a primeira de uma série que será contada pela Campanha “Agro, do Pequeno ao Grande, do Campo pra Você” do Senar. Essas histórias inspiradoras revelam como o conhecimento e o apoio podem transformar vidas e realizar sonhos no campo.