Siqueira Campos
Governador por quatro mandatos, José Wilson Siqueira Campos deixa legado de obras e ações que marcam o Tocantins
Obras e ações de Siqueira Campos deram personalidade à capital Palmas, além de edificações em todo território tocantinense nas áreas da saúde, infraestrutura e educação, garantindo ao povo tocantinense dignidade e pertencimento
José Wilson Siqueira Campos foi o primeiro governador do Estado do Tocantins e repetiu o feito por mais três mandatos (1989-1991, 1995-1998, 1999-2003 e 2011-2014). Como deputado federal, atuou bravamente pela divisão do norte goiano na Câmara Federal e, por meio da Constituição Brasileira aprovada em 1988, avançou na luta separatista que resultou na criação do estado do Tocantins naquele ano.
Ainda sobre a divisão do território goiano, é importante destacar que Siqueira Campos se tornou a imagem de uma luta centenária, que teve início há quase 200 anos, com Joaquim Teotônio Segurado, ouvidor geral da Capitania de Goiás e posterior desembargador das comarcas do Rio de Janeiro, Goiás e Bahia, concomitantemente. Em seus discursos durante a Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988), Siqueira Campos citou o desembargador como “patrono e maior sustentador da luta pela criação do Estado”.
Novo Estado, novas cidades
Muitos povoados, vilas e distritos que ocupavam o território hoje conhecido como Tocantins receberam o título de município após a construção do Estado. Foram 58 municípios criados após a emancipação do Tocantins, incluindo a última cidade planejada no Brasil durante o século XX, Palmas, fundada em 1989. As demais 57 cidades receberam esse título entre os anos de 1990 e 1997, o que garantiu repasses de verbas públicas e possibilitou o avanço no desenvolvimento econômico e social nas diversas regiões do Estado. O Tocantins conta com 139 municípios e, para ligar essas cidades, o ex-governador Siqueira Campos idealizou a construção de rodovias estaduais que são importantíssimas para o fluxo econômico, não só do Estado, como de todo o país.
Palmas
Em 1989, com o Tocantins territorializado e com uma capital provisória – Miracema do Norte -, o então Governador empossado de forma interina lançou a pedra fundamental onde seria construída a capital permanente, Palmas, no centro do Brasil, em cerrado aberto. Segundo Siqueira Campos, “um novo Estado tem que ter um rosto também novo”, por isso, recusou a ideia de aproveitar as cidades já existentes e se propôs a erguer uma nova cidade para sediar a capital do Tocantins. À época, sua decisão foi amplamente criticada, sobretudo pelos prefeitos das maiores cidades do Tocantins e pelos maiores líderes que enxergavam, na proposta, um desperdício de recursos.
Em entrevista exclusiva cedida à Secretaria Estadual da Comunicação (Secom) em 2019, Siqueira Campos explicou como decidiu pelo território que viria a ser a capital definitiva do Tocantins. “Eu tomei posse no dia primeiro de janeiro de 1989 e comecei a me dedicar à decisão de construir a capital no dia 19 do mesmo mês. Vindo de Miracema, sobrevoei de avião várias áreas e escolhi uma área de 70 por 70 Km, para, em qualquer parte dela, construir a capital. Foi o lugar mais bonito, o melhor lugar de toda essa região”, ressaltou Siqueira, na ocasião. Atualmente, a Capital do Tocantins abriga 302.692 habitantes, conforme último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2022 e divulgado em 2023.
Praça dos Girassóis
O homem político e, agora, memorável, é conhecido pelas obras de grande expressão e magnitude. Além de lançar uma capital em território previamente habitado por pequenos produtores rurais e ribeirinhos, ele comandou a construção da Praça dos Girassóis, projetada para abrigar as sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Tocantins. Com 571 mil m² de extensão, a Praça dos Girassóis é considerada a segunda maior praça urbana do mundo e carrega, em si, muitos traços e esculturas da história do Estado recém criado. O destaque fica para o cruzeiro, assinado pelo artesão Arnildo Antunes. Esculpida em pau-brasil, a cruz foi o primeiro monumento histórico erguido em Palmas e, em 2000, foi tombado como Patrimônio Cultural da cidade.
Palácio Araguaia
Ainda se tratando da Capital e da Praça dos Girassóis, vale destacar a construção do Palácio Araguaia, também idealizado por Siqueira Campos e projetado pelos arquitetos Maria Luci da Costa e Ernani Vilela. Construída em tempo recorde (13 meses), a sede do Poder Executivo foi inaugurada em 9 de março de 1991 e configura como marco do Plano Diretor de Palmas. Antes de o Palácio ficar pronto, a sede administrativa do Governo do Tocantins tomou posse onde hoje é o Palacinho, construção feita em madeira de lei (jatobá), com sistema de montagem pré-fabricado, hoje tombado como Museu Histórico do Tocantins. Ainda sobre o Palácio Araguaia, ele traz em seus detalhes traços da religiosidade, cultura, história e lutas do Estado, como os arcos que fazem referência à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, no município de Natividade.
UHE Lajeado
Por ter comandado o Executivo Estadual por quatro mandatos, Siqueira Campos realizou obras importantes em várias áreas, sobretudo na educação, na saúde, na infraestrutura e na geração de energia, buscando fortalecer cada vez mais a economia do “caçulinha brasileiro”. Outro exemplo de obra de grande proporção é a Usina Hidrelétrica (UHE) Luís Eduardo Magalhães, em Lajeado, construída entre 1998 e 2002. Com o represamento do Rio Tocantins, Palmas ganhou um grande lago, responsável pelos belos visuais e praias de água doce na capital.
Ponte da Amizade e da Integração
Outra obra estruturante que auxiliou no crescimento da capital, Palmas, e no desenvolvimento econômico do Tocantins foi a Ponte Fernando Henrique Cardoso (FHC), inaugurada no dia 27 de setembro de 2002 e construída entre 1998 e 2002, 100% com recursos estaduais. Localizada na Rodovia TO-080, sobre o Lago de Palmas, formado pela Usina Hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães, a edificação é um dos principais cartões postais de Palmas, possui 1.042 metros de extensão e foi orçada em R$ 75 milhões, à época.
Saúde
A fim de garantir acesso aos direitos fundamentais como saúde, por exemplo, Siqueira Campos encabeçou a construção de hospitais de grande e médio porte em todo o território tocantinense. Desde Augustinópolis, na região do Bico do Papagaio, à Arraias, no extremo sudeste, várias cidades receberam obras de hospitais regionais, como Gurupi, Araguaína, Guaraí, Paraíso, Xambioá, Dianópolis, Alvorada, Araguaçu, Arapoema, Miracema, Pedro Afonso e Porto Nacional. Destaque para o Hospital Geral de Palmas (HGP), referência em saúde pública não só no Estado do Tocantins, mas para todas as unidades federativas que fazem divisa. O Pronto Socorro do HGP, por exemplo, tem uma média de 3,5 mil atendimentos por mês, com pacientes vindos de Mato Grosso, Pará e Maranhão.
Outra obra relevante na área da saúde promovida pelo então governador Siqueira Campos foi o Hospital e Maternidade Dona Regina (HMDR), única referência em alta complexidade para atender partos em toda a macrorregião de saúde centro sul do Tocantins. Nascido do processo de descentralização dos serviços de ginecologia, obstetrícia e pediatria do Hospital de Referência de Palmas, o HMDR foi criado em 21 de junho de 1999.
Educação
Antes da construção do Tocantins, o antigo norte-goiano não recebia a atenção necessária dos poderes públicos constituídos na época, sobretudo na área da educação. O que se tem de história é que grande parte das escolas públicas abertas nas cidades situadas nesta região foram oriundas do processo colonizatório empreendido pela Igreja Católica e seus padres missionários. Logo, outra importante contribuição dada por Siqueira Campos ao Tocantins e ao povo que aqui vivia foi acesso à uma educação de qualidade, desde seu primeiro mandato como governador.
A implantação de Escolas de Tempo Integral (ETI) na rede estadual de educação, por exemplo, foi uma iniciativa empreendida por ele. Durante a implantação do que ele chamou de “nova educação”, construiu e adaptou, entre 2011 e 2014, escolas para seguir esta nova metodologia de ensino, atendendo milhares de crianças tocantinenses e ofertando três refeições diárias, além da prática de esportes e aprendizado de música e artes em geral. No mesmo período, sua contribuição se estende à entrega de ônibus escolares, mais de 230 obras na área da educação e equipamentos distribuídos em todas as unidades escolares do Estado. Na época, Siqueira afirmou que “a educação é o caminho que leva a mudanças transformadoras e os investimentos são para não termos um povo pedindo esmolas, mas líderes capazes de mudar a realidade”.
Pioneiros Mirins
Ainda lembrando o antigo norte-goiano, apesar de grandes riquezas naturais ainda brutas, era uma região que carecia de muita atenção do poder público. Essa preocupação consternou Siqueira Campos que, após a construção do Tocantins, implantou um programa de assistência social que buscava trazer dignidade ao povo da região. O programa Pioneiros Mirins foi criado originalmente em 1989, chegou a ter mais de 40 mil beneficiários que recebiam bolsa-auxílio e participavam de atividades em núcleos regionais e municipais. O programa passou por diversas etapas e adaptações, mas acabou sendo extinto no ano de 2017. O Pioneiros Mirins foi implementado como modelo de solução para situações de vulnerabilidade e risco social ou pessoal nos 139 municípios do Tocantins.
Aeroporto Internacional de Palmas
Na ambição de conectar o Tocantins ao restante do Brasil e ao mundo, Siqueira Campos pôs em prática a construção do Aeroporto Brigadeiro Lysias Rodrigues. Com capacidade para receber 2 milhões de passageiros/ano, o terminal aéreo foi inaugurado pela Infraero em 5 de outubro de 2001, no 13º aniversário do Tocantins. O Aeroporto Internacional de Palmas é o único operado pela Infraero no Tocantins que possui voos efetuados pela Latam Airlines Brasil, Gol Linhas Aéreas Inteligentes, Azul Linhas Aéreas Brasileiras e a Passaredo Linhas Aéreas, que são as quatro maiores companhias aéreas do Brasil.
Contribuição histórica
Na reta final de sua vida política como governador do Tocantins, durante o pronunciamento de sua renúncia em 2014, Siqueira Campos falou sobre a satisfação em ter trabalhado uma vida inteira em prol de um povo, quiçá, continuaria esquecido caso não houvesse a divisão territorial. No texto, direcionado aos deputados estaduais empossados à época, ele afirmou: “Foi um privilégio e uma grande honra ter servido ao Estado do Tocantins, dividindo com vossas excelências a responsabilidade pela condução do nosso povo ao destino de grandeza que a história lhe reserva”.