O lipedema, condição crônica que afeta milhões de mulheres brasileiras, tem despertado crescente interesse científico, especialmente diante dos avanços em terapias complementares que podem melhorar a qualidade de vida das pacientes. Uma dessas abordagens é a fotobiomodulação, técnica que utiliza luz vermelha e infravermelha de baixa intensidade para estimular células, modular processos inflamatórios e favorecer a recuperação dos tecidos. Um estudo inédito publicado no Lasers in Medical Science trouxe evidências concretas sobre como essa tecnologia influencia o tecido doente nas primeiras horas após a aplicação.
O trabalho contou com a participação do Instituto Lipedema Brasil e analisou alterações microscópicas em amostras de tecido adiposo obtidas minutos antes de procedimentos cirúrgicos já indicados para pacientes diagnosticadas com lipedema grau IV. A pesquisa avaliou três mulheres e mostrou modificações celulares consideradas relevantes para o manejo da doença, indicando que a fotobiomodulação pode atuar diretamente em mecanismos que contribuem para os sintomas, entre eles dor, inflamação e aumento do volume de gordura.
Efeitos observados no tecido com lipedema
Entre os resultados mais significativos, os pesquisadores observaram redução no tamanho dos adipócitos nas áreas tratadas com fotobiomodulação. Esse achado é importante porque o lipedema é caracterizado justamente pelo aumento anormal dessas células, que se tornam maiores, dolorosas e resistentes à eliminação. A diminuição do volume dos adipócitos, portanto, abre caminho para tratamentos complementares mais efetivos.
Outro ponto relevante foi o aumento da expressão da caspase-3, marcador associado ao processo natural de eliminação de células danificadas. Essa resposta sugere que a luz ativa mecanismos de renovação celular essenciais para reduzir a sobrecarga do tecido comprometido pelo lipedema. Foram identificadas ainda mudanças relacionadas à resposta inflamatória e ao metabolismo, como o aumento de COX-2 e CYP1A1, indicativos de que o organismo inicia processos de reparação quando estimulado pela luz.
Além dos efeitos diretos nos adipócitos, houve aumento de macrófagos (CD68), células fundamentais no processo de limpeza e regeneração dos tecidos. Isso reforça que a terapia não é apenas paliativa, mas pode influenciar vias fisiológicas que estão na base da evolução do lipedema. O Dr. Fábio Kamamoto, diretor do Instituto Lipedema Brasil e um dos pioneiros no tratamento cirúrgico da doença no país, destaca que os achados são promissores e podem orientar novos protocolos clínicos.
O que esse avanço representa para o tratamento do lipedema
A fotobiomodulação já era utilizada como terapia complementar para dor, edema e recuperação pós-operatória, mas faltavam evidências diretas sobre seus efeitos imediatos no tecido doente. O estudo, embora preliminar, representa a primeira demonstração clara — observada em nível celular — de que a luz pode modular processos que ocorrem nas camadas profundas da gordura acometida pelo lipedema.
Segundo Kamamoto, observar mudanças tão rápidas reforça o potencial da tecnologia como aliada em tratamentos conservadores, especialmente nos casos em que a dor, a inflamação e a limitação funcional afetam a rotina das pacientes. Ele ressalta que não se trata de uma cura, mas de uma ferramenta complementar para reduzir sintomas e melhorar o bem-estar.
A relevância do estudo também chamou atenção internacional. No início de novembro, a equipe do Instituto Lipedema Brasil apresentou mais de 15 trabalhos científicos no II Lipedema World Congress 2025, realizado em Roma, consolidando o protagonismo brasileiro na produção acadêmica sobre a doença.
Consciência científica e impacto social
O avanço da pesquisa em lipedema tem impacto direto na vida de milhares de mulheres que convivem com dor, limitações e diagnósticos tardios. Para muitas delas, informação de qualidade e acesso a terapias baseadas em evidências são passos fundamentais para garantir autonomia e cuidados adequados. A discussão sobre a doença também envolve aspectos socioeconômicos, já que longos períodos de dor e restrição funcional podem afetar a produtividade e a inserção no mercado de trabalho.
Nesse contexto, promover acesso à informação científica e fortalecer políticas de saúde é essencial. Instituições como o IBGE e o Sebrae Nacional são referências para compreensão de dados populacionais, econômicos e estruturais que influenciam o cenário do lipedema no Brasil.
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