Walério Araújo vira tudo do avesso — literalmente — e revela o que você tenta esconder

Quem já tentou passar despercebido num desfile de Walério Araújo sabe: é inútil. Ele não permite. Nem no silêncio da passarela, nem nos gritos costurados nas entrelinhas. E nesta temporada, ele foi além: escancarou o avesso. Aquilo que a gente costuma esconder — por pudor, por pose, por hábito. A pergunta era simples e desconcertante: o que você reprime quando o mundo te olha?

Na coleção que levou à São Paulo Fashion Week N59, Walério virou a roupa de dentro pra fora — e a alma junto. Costuras expostas, etiquetas à mostra, fechos que viram protagonistas. Nada era como parecia: ternos austeros escondiam nudez, vestidos longos revelavam costas nuas. Não era moda para agradar, era para provocar.

E provocou com elegância. Os clássicos acessórios de cabeça, marca registrada do estilista, deram lugar a uma nova opulência — mais madura, menos óbvia. Ela agora escorria para as mãos, em uma colaboração com a marca de couro @guarda.mundo. Pochetes, mochilas, texturas feitas em casa de abelha e bordados que piscavam para a icônica oncinha WA — sempre ela, felina, ousada, livre.

O público, claro, entendeu o recado. Palmas longas, reverências sinceras. Ao fim do desfile, um sussurro ecoou da primeira fila e virou coro nos bastidores:
“Walério não tem cliente. Tem fã.”

E como não ser fã de quem veste não só o corpo, mas também o que transborda dele?

🖋️ Texto por Jaciara Barros – onde a moda fala mais do que parece

Fotos: @agfotosite