O que o caso Gerson revela sobre as falhas do sistema de saúde mental no Brasil

falhas do sistema de saúde mental no Brasil

Falhas do sistema de saúde mental no Brasil

As falhas do sistema de saúde mental no Brasil voltaram ao centro do debate nacional após a morte de Gerson de Melo Machado, o “Vaqueirinho”, de 19 anos, que invadiu a jaula de uma leoa em João Pessoa no domingo, 30 de novembro. O jovem, com histórico de vulnerabilidade extrema, surtos não tratados e registros policiais, morreu após ser atacado pela leoa Leona. Especialistas apontam que a tragédia expõe, de forma contundente, as falhas do sistema de saúde mental no Brasil e a ausência de políticas públicas eficazes.

Falhas do sistema de saúde mental no Brasil evidenciam um modelo incompleto

A Reforma Psiquiátrica de 2001 buscou substituir manicômios por uma rede comunitária de CAPS, residências terapêuticas e atendimento territorial. Porém, a distância entre teoria e prática expõe o grande vazio estrutural do país. As falhas do sistema de saúde mental no Brasil ficam evidentes quando casos complexos, como o de Gerson, não encontram tratamento integral, psiquiatras suficientes ou suporte familiar estruturado. De acordo com dados do IBGE, mais de 60% dos municípios brasileiros apresentam escassez de profissionais de saúde mental.

A falta de equipes completas nos CAPS, o baixo número de serviços de alta complexidade e a ausência de articulação entre municípios revelam que o país ainda não conseguiu garantir atendimento adequado aos pacientes mais vulneráveis. O Ministério da Saúde reconhece esses desafios em seus relatórios oficiais, disponíveis em gov.br/saude.

Trajetória marcada por rejeições e ausência de cuidado

A conselheira tutelar Verônica Oliveira acompanhou Gerson por quase dez anos. O jovem teve a infância interrompida pela pobreza, abandono materno e ausência de vínculos familiares. Sua mãe tinha esquizofrenia, condição também diagnosticada na avó. Enquanto os irmãos foram adotados, Gerson nunca encontrou uma família definitiva, reforçando as falhas do sistema de saúde mental no Brasil em garantir proteção social e acompanhamento contínuo.

Aos 10 anos, fugiu sozinho de um abrigo e caminhou por quilômetros até ser encontrado pelo Conselho Tutelar. Passou por instituições despreparadas para casos psiquiátricos severos. O diagnóstico de deficiência intelectual, transtorno de conduta e esquizofrenia só foi formalizado em 2023, quando o laudo recomendou regime de tratamento integral — que nunca ocorreu.

Tragédia anunciada e sinais ignorados

Obcecado pela ideia de ser domador de leões e viajar para a África, Gerson já havia sido encontrado escondido no trem de pouso de um avião, acreditando que chegaria ao continente africano. Para profissionais da rede de proteção, esse comportamento evidenciava surtos psicóticos e risco extremo. No dia da tragédia, ele escalou um muro de seis metros, ultrapassou grades e entrou no recinto da leoa.

Mesmo após múltiplos alertas, episódios de fuga, comportamentos perigosos e histórico psiquiátrico grave, não houve tratamento contínuo. Para Verônica, a tragédia foi construída “ao longo de anos de negligência”, sintetizando as falhas do sistema de saúde mental no Brasil.

O que este caso revela sobre as falhas do sistema de saúde mental no Brasil

O episódio evidencia falhas sucessivas: acolhimento infantil precário, ausência de diagnóstico precoce, falta de vagas para alta complexidade, inexistência de tratamento multidisciplinar e ruptura entre políticas públicas e acompanhamento real. Jovens como Gerson ficam em uma zona cinzenta — não se encaixam no modelo atual e não teriam dignidade no antigo sistema manicomial.

Especialistas alertam que as falhas do sistema de saúde mental no Brasil são resultado de subfinanciamento, ausência de equipes completas, fragilidade das redes territoriais e falta de integração entre assistência social, saúde e justiça. O caso mostra que o Brasil rejeitou manicômios, mas não concluiu a construção de sua rede substitutiva.

Perguntas que o Brasil precisa responder

O caso gera questões urgentes: a rede de CAPS está preparada para casos sem suporte familiar? Os municípios têm equipes de acompanhamento contínuo? Existem vagas especializadas suficientes para adolescentes e jovens com quadros graves? Qual o limite do “imprevisível” quando os sinais são evidentes?

A morte de Gerson aconteceu no zoológico, mas sua vida já vinha sendo silenciada pela ausência de cuidado, diagnóstico e proteção. Suas marcas refletem, de forma dolorosa, as falhas do sistema de saúde mental no Brasil.

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