Na noite da Sexta-feira Santa (18), fiéis de diversas regiões do Brasil participam da tradicional Procissão das Almas, uma manifestação de fé que resiste ao tempo e emociona gerações. O ritual, realizado após a Celebração da Paixão de Cristo, acontece em completo silêncio ou com cantos fúnebres, à luz de velas, em ruas escuras e históricas.

A tradição está presente especialmente em cidades como Ouro Preto, Mariana e São João del-Rei, em Minas Gerais, no Recôncavo Baiano, e com destaque também na cidade de Goiás, antiga capital do estado homônimo, onde a procissão é conhecida como Procissão dos Penitentes.

Roteiro e simbolismo em Goiás Velho

Em Goiás, a procissão tem início na Igreja de São Francisco de Paula e percorre pontos históricos como a Igreja do Rosário, Igreja do Carmo, a Sala de Velório da Santa Luzia, a Igreja D’Abadia, passando pelo antigo campo da forca até chegar ao Cemitério São Miguel Arcanjo. Durante o trajeto, são realizadas sete paradas, representando as Sete Dores de Nossa Senhora.

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Os participantes vestem túnicas brancas com capuzes, caminham em silêncio, entoam ladainhas e orações fúnebres, clamando misericórdia pelas almas do purgatório. A tradição, segundo registros históricos, remonta ao século XVIII e foi trazida da Europa após a peste negra, sendo preservada desde então por irmandades religiosas.

Lendas e mistério envolvem o cortejo

Cercada de espiritualidade, a Procissão das Almas em Goiás também é acompanhada por lendas locais. Uma das mais contadas narra que um penitente entregou uma vela a uma mulher fofoqueira, prometendo buscá-la na semana seguinte. Ao retornar, a vela havia se transformado em um osso humano, levando a mulher ao desespero. Outra lenda diz que quem participa da procissão deve fazê-lo por sete anos consecutivos e, quem reza durante o cortejo, deve repetir a oração sete vezes.

Preservação e reconhecimento cultural

A procissão é organizada pela Venerável Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos, fundada em 1745. O evento foi incluído no calendário oficial de eventos culturais e religiosos de Goiás por meio de projeto de lei do deputado estadual Antônio Gomide. A celebração também conta com apoio do Programa Estadual de Incentivo à Cultura – Goyazes, garantindo recursos para sua realização.

Em outras cidades, como Mariana e Cachoeira, o evento também é marcado por rituais simbólicos, como a presença de personagens lendários e orações em pontos específicos do trajeto. “É um momento de muita reflexão. A gente se sente parte de algo sagrado e ancestral”, disse uma moradora que acompanha a procissão há mais de 30 anos.

A Procissão das Almas continua sendo um dos pontos altos da Semana Santa, não apenas pelo impacto visual e espiritual, mas pela mensagem que carrega: a certeza de que a fé, mesmo silenciosa, é capaz de atravessar o tempo.